#37: Se non è Veríssimo
ao mestre com carinho
Como a gente fala de uma influência direta? Alguém que influenciou cada palavra que eu escrevo, que está presente em cada texto meu, que eu tento emular, consciente ou não, em cada frase ou parágrafo? Como estar à altura do mestre maior disso que eu tento fazer aqui? Eu não sei a resposta de nenhuma dessas perguntas, e isso é desesperador. Mas vamos lá.
Luis Fernando Verissimo faleceu aos 82 anos de idade. E, como pra tudo na vida, tem umas duas ou três coisas que ele escreveu que são perfeitas para este momento. Mas usurpar a memória do mestre, meramente o copiando, seria muito pouco. Verissimo pariu toda uma geração de escritores irônicos, engraçados e meio esquisitos, que tentaram, quase sempre em vão, emular sua erudição e ironia finíssimas.
E eu sou um deles.
Escrever sempre me pareceu inacessível, coisa dos gigantes, dos letrados, dos romances e das rapsódias. Até que, por intermédio de Verissimo, eu descobri a crônica. E um novo mundo se abriu pra mim. Observar o cotidiano, escrever alguma coisa sobre, encontrar um aforismo perfeito, fazer as pessoas rirem. Verissimo me ensinou que tudo isso era possível, e mudou minha vida por isso.
Quando estava no nono ano, a professora de português — que me amava, apesar de penar com a minha péssima caligrafia — passou uma tarefa de escrever uma crônica baseada em seu clássico “Futebol de Rua”, em que fala daquele futebol que “tão humilde que chama pelada de senhora”. Minha crônica foi a mais elogiada, se não exatamente a que faz mais barulho — não deu pra competir um relato de briga física no Interclasse. E olha que a crônica era exatamente sobre a minha falta de habilidade no ludopédio rueiro. E isso é Luis Fernando Verissimo até a medula.
Se hoje eu escrevo quase por encomenda e com alguma periodicidade, é por causa dele, que sempre se considerou um operário das letras mais que um artista delas. Ledo engano, mestrão. Você sempre foi impressionante. Muito obrigado por tudo.
Quote da Semana:
É isso, meus queridos, até a próxima!




